Quem nunca teve dificuldade de compreensão que atire a primeira pedra!
O conflito é natural do ser humano e por isso tão presente em nossas vidas, seja no ambiente familiar, empresarial, ou até mesmo nas redes sociais, pois sempre que houver a convivência entre um grupo de pessoas, inevitavelmente haverá divergências de ideias, objetivos, entre outros fatores. Afinal, todos esses meios são compostos por pessoas, das mais diversas opiniões e personalidades.
Por que isso acontece?
Considere rapidamente o seguinte diálogo:
Você acha a Fernanda uma boa líder? Ela é inteligente, forte, determinada. Gera empatia com seus liderados, é organizada, ágil e eficiente…
A resposta veio rapidamente na sua mente como um sonoro “sim, claro”.
Mas e se os adjetivos seguintes fossem: corrupta, cruel, antipática, desumana?
Talvez agora você mude de ideia ou pare pra pensar um pouco mais.
Ao ler, ou ouvir, a primeira frase começando com adjetivos que caracterizam pontos positivos, você não se pergunta: “Ei, peraí: o que eu preciso saber sobre as qualidades de liderança de alguém antes de formar uma opinião?”
No entanto, mesmo depois da apresentação dos adjetivos negativos o seu cérebro cairá no que é conhecido como viés de confirmação.
Em outras palavras, uma vez que seu cérebro criou uma “história” à partir dos primeiros adjetivos, você acaba se apegando a ele e dificilmente largará a posição que tomou no primeiro instante, pois foi criado um conforto cognitivo, ou seja, você já criou uma resposta sem qualquer incômodo subjetivo.
É por isso que tirar conclusões precipitadas com base em evidências limitadas não é algo incomum. Fazemos isso o tempo todo muito mais do que percebemos. Daniel Kahneman até criou um termo para isso: WYSIATI, as iniciais de what you see is all there is (que significa: o que você vê é tudo que há).
Observe a imagem abaixo.
Ela é naturalmente a mais comprida, isso está claro. É o que todos nós vemos, se não fosse o simples fato que elas possuem o mesmo tamanho.
Existem inúmeras pesquisas na área da psicologia mostrando como nos atemos aos padrões e como nosso cérebro é preguiçoso criando histórias com pequenas evidências e dados para que nossas opiniões pareçam conscientes e consistentes.
Mas o que é o padrão?
Somos inundados por diferentes tipos de informações durante toda a vida, o que acaba tornando o famoso padrão um pouco diferente para uns, e isso afeta as nossas escolhas e nossa visão de mundo.
Talvez o binarismo, principalmente político, que passamos no mundo atual seja um reflexo disso. As hipérboles estão aí nos assuntos mais variados possíveis. Discuta futebol, política, ou até mesmo uma cena de um filme, um livro, com um grupo de pessoas e rapidamente os discursos “Não é bem assim”. “Noooosssa, que lixo!!” ou “Não acredito que você achou isso bom?
Formação de padrões levam em conta contextos e culturas. Em uma série de experimentos e pesquisas relatadas no excelente livro “A arte da escolha”, de Sheena Iyengar, fica claro como a cultura de um país, região, bairro, enfim, afeta diretamente o comportamento das pessoas.
Os japoneses, por exemplo, são mais coletivistas que os americanos, uma vez que eles levam em consideração as pessoas envolvidas ao seu redor no momento de tomar decisão.
Em contrapartida, os americanos são mais individualistas, com uma filosofia de vida mais voltada para o “eu quero, eu consigo; sou livre para fazer minhas escolhas”. Não que um seja melhor ou pior que o outro, o intuito é mostrar que crescemos dentro de um contexto que forma um padrão para nós que talvez não seja compartilhado por outros.
Nate Silver, autor do recomendadíssimo livro “Sinal e Ruído: porque tantas previsões falham e outras não”, mostra como tomamos decisões erradas e somos péssimos em prever. Mas o principal: não voltamos para analisar os motivos pelo qual
tomamos tais decisões; se tínhamos poucos dados à vista, se estávamos enviesados. Provavelmente sim, mas seguimos em frente até o próximo acerto não é mesmo?
Voltando ao exemplo inicial do texto. E se mudássemos a ordem da apresentação dos adjetivos, isso teria alguma influência na resposta?
O WYSIATI ajuda a explicar uma lista longa de diversos vieses de julgamento e escolha, e um deles é framing effects (efeito de enquadramento): modos diferentes de apresentar a mesma informação frequentemente evocam diferentes emoções.
A afirmação “as chances de sobreviver um mês após a cirurgia são de 90%” é mais tranquilizadora do que a afirmação equivalente de que “a mortalidade no período de um mês após a cirurgia é de 10%”. Da mesma maneira, se você for comprar frios e estiver descrito como sendo “90% livres de gordura” é mais atraente do que “10% de gordura”.
WYSIATI facilita a conquista de coerência e do conforto cognitivo que nos leva a aceitar uma afirmação como verdadeira. Explica por que podemos pensar com rapidez e como somos capazes de extrair sentido da informação parcial em um mundo complexo.
Quando ideias diferentes se colidem é inevitável que as diferenças sejam defendidas com unhas e dentes, afinal, o que você viu e o que você vê pode não ser o mesmo que é visto pela outra pessoa. E talvez você não esteja interessado no que vem de lá, pois sua mente já se decidiu e abraçou o viés de confirmação.
No fim das contas, what you see is all there is – o que você vê, é tudo que há.